Dr. Diego Schadeck Rodrigues

Dr. Diego Schadeck Rodrigues

Alcione, em primeiro lugar sinto muito por não ter se sentido bem atendido, sua opinião é importante para a melhoria contínua do atendimento prestado. Esperamos que apesar dessa primeira má impressão, possamos nos reencontrar aqui em nosso consultório.

Gostaríamos de saber o nome do paciente afim de revisar o que ocorreu com o agendamento e atendimento do seu filho, e qual a razão do atendimento de outros pacientes antes de seu filho. Estamos em migração de sistema eletrônico de prontuário e agenda médica, e algum equivoco pode ter sido cometido pelas nossas secretárias ou até mesmo pela minha pessoa no momento do atendimento.

Com relação ao quesito da bagunça, na quase totalidade dos casos os nossos pequenos pacientes tem total liberdade em brincar e manipular os brinquedos do consultório, mas em algumas circunstâncias somos obrigados a limitar as brincadeiras e acessos aos materiais disponíveis no consultório, sendo as principais situações:
1. Quando os materiais estão pontencialmente contaminados por paciente atendido anteriormente com doença infecto-contagiosa no atendimento anterior, não tendo sido possível a higienização e desinfeção entre os atendimentos para mantermos nossa agenda dentro dos cronogramas previstos.
2. Quando o paciente visivelmente apresenta doença infecto-contagiosa e pelo atraso já em andamento da agenda precisamos manter rigorosamente os atendimentos dentro do tempo de consulta previsto, para evitar atrasos ainda maiores para os demais pacientes.
3. Quando o paciente chega com atraso à consulta e o tempo de consulta precisa ser reduzido para manter a agenda dentro da pontualidade.
4. Quando o paciente já manuseou os brinquedos e objetos do consultório, já houve organização rápida dos mesmos ao fim do exame físico e o paciente volta a desorganizar todos os objetos recém organizadores.
5. Quando a “bagunça” do paciente ultrapassa os limites do bom senso e civilidade, mesmo considerando que se trata de uma criança.

Julgo um pouco ofensivo o fato de questionar o meu amor pela profissão e pelo exercício da pediatria. Ao longo de 6 anos de exercício da atividade, apesar de todos os percalços e inconvenientes diários que cada profissão em sua existência tem, ao exercer a pediatria em momento algum senti que não era esse meu dom e ofício, mesmo com o choro constante de pacientes, contato muito próximo com todo tipo de secreções, vírus e batérias, bem como com a resistência ao exame físico, tão comum a vários pacientes nas faixas etárias mais baixas. Talvez somente outros colegas de profissão entendam o que é vivenciar isso dia a dia, ano a ano, por horas seguidas diariamente e ainda chegar em casa feliz por um bom dia de trabalho.

NO ENTANTO…
O Amor ao meu ofício é a última coisa que o senhor deveria questionar.
Questionar qualidade, concordo, críticas podem ser extremamente construtivas, afinal, sempre há espaço para melhoria e aperfeiçoamento.
Mas o amor pelo ofício, isso é algo tão íntimo e profundo, que à quem não tem pleno conhecimento por um outro indivíduo, que se torna inaceitável.

Eventualmente nem à quem mais amamos conseguimos atender as expectativas e dar o nosso melhor potencial em absolutamente todos os dias.

Somos humanos, e isso por si só nos torna falhos eventualmente.
Garanto que mesmo o senhor, mesmo com todo amor que tem aos seus filhos e sua esposa, ocorreram dias em que você não conseguiu entregar o melhor de si, e mesmo assim, jamais seria justo afirmar ou sugerir que o amor que sente por eles é inexistente.

Empatia Alcione, é uma via de mão dupla, e corro o risco de dizer que é uma via de mão múltipla.

Para entender mais sobre isso sugiro assistir algumas aulas e reflexões sobre educação parenteral da Samia Marsili, principalmente sobre a construção das virtudes na personalidade e caráter de nossos filhos.
Talvez aquele momento e situação em que seu filho ficou perplexo fosse uma excelente oportunidade de mostrar e explicar à ele sobre as adversidades e frustrações que se apresentam dia a dia na nossa vida.
Mesmo quando não nos deparamos com o ideal ou com aquilo que desejávamos, principalmente para a formação infantil, a compreensão e reflexão devem ser estimulados.

Ou fazemos isso, ou teremos uma geração totalmente incapaz da empatia necessária para uma sociedade cada vez mais complexa e mutável com a qual o futuro nos reserva.

Atenciosamente,
Diego Schadeck Rodrigues, Pediatra
CRM-SC 18210