Obrigado por compartilhar sua experiência de forma tão detalhada. Entendo sua apreensão, principalmente após ter passado por um quadro grave de apendicite e por uma recuperação mais prolongada do que o esperado.
De forma objetiva, as queixas que você descreve não costumam ter relação direta com a apendicectomia em si, especialmente considerando o tempo já decorrido desde a cirurgia e o fato de não ter havido complicações cirúrgicas locais.
Em relação à dor nas costas, com sensação de fisgada, caráter intermitente e localização entre as costelas direitas e a coluna, esse tipo de dor não é típico de dor pós-operatória abdominal tardia. Dores relacionadas à cirurgia geralmente se concentram na região da incisão ou no abdome e tendem a melhorar progressivamente nos primeiros meses. Quando persistem por longos períodos, costumam ter características diferentes das que você descreveu. Pela localização e pelo tipo de dor, é mais compatível com causas musculoesqueléticas, posturais ou até irritação nervosa, algo relativamente comum e que pode não ter relação com o procedimento cirúrgico realizado.
Quanto à constipação e ao aumento de gases, é importante esclarecer um ponto fundamental: o apêndice não tem função digestiva. A retirada do apêndice não interfere no funcionamento do intestino, na digestão ou na produção e eliminação de fezes e gases. Portanto, a apendicectomia, por si só, não é causa de constipação crônica ou dificuldade para eliminar gases.
Se houvesse alguma complicação intestinal relacionada à cirurgia, os sintomas seriam mais evidentes e graves, como dor abdominal intensa e contínua, distensão abdominal importante, parada completa da eliminação de fezes e gases, náuseas ou vômitos persistentes, o que não parece ser o seu caso.
A constipação costuma estar muito mais relacionada a hábitos de vida. Gosto de usar uma comparação simples:
O intestino funciona como uma "fábrica". Para produzir bem, ele precisa de matéria-prima de qualidade e de movimento. Essa “matéria-prima” inclui:
• Ingestão adequada de água ao longo do dia,
• Consumo regular de fibras (frutas, verduras, legumes, saladas, grãos),
• Além de atividade física, mesmo que leve, como caminhadas frequentes, que estimulam o funcionamento intestinal.
Sem esses fatores, o intestino tende a ficar mais lento, favorecendo constipação e acúmulo de gases, independentemente de cirurgias prévias.
Em resumo, pelos sintomas descritos:
• não há indícios claros de que suas queixas estejam diretamente relacionadas à apendicectomia,
• a dor nas costas sugere outra origem que merece avaliação específica, se persistir,
• e as alterações intestinais costumam responder bem a ajustes de hábitos alimentares e de rotina.
Caso os sintomas persistam ou se intensifiquem, o ideal é uma avaliação médica para investigar outras causas e orientar o tratamento mais adequado. Mas, de forma geral, o quadro descrito não sugere sequela cirúrgica.
Estou à disposição para esclarecer qualquer outro ponto.