Dra. Priscila Miranda Soares

Contar a nossa história é uma forma de nos conectarmos com outras pessoas, compartilhar experiências e aprendizados, e encontrar apoio e inspiração. Nasci em Montes Claros, sou filha de Jair e Ignês, e tenho muito orgulho dos meus pais. Vem deles minha base.

Aos 17 anos, comecei minha história com a Medicina, porque sempre acreditei que é uma profissão que me permite ajudar as pessoas de uma forma única e significativa, além de ser uma oportunidade de aprendizado constante e de desafios que me motivam a crescer como pessoa e profissional. Depois de concluir o curso na Unimontes, fiz residência em Oncologia pela Santa Casa de Belo Horizonte, quando me casei com o Jarbas. Tivemos dois filhos, presentes do céu nas nossas vidas, Rafaela e Victor Hugo.

Foi minha família a minha maior inspiração. Eles são meu propósito, meu “para quem” viver. E hoje, ao olhar para trás, vejo que foi justamente por tê-los que surgiu em meu coração a vontade de criar a Associação Presente. Eu chegava em casa e via meus filhos saudáveis, e no hospital em que eu trabalhava eu via outras crianças que não tinham o mínimo para buscarem reestabelecer a própria saúde. Eu via pais que tratavam de câncer, mas não tinham onde comer, dormir, e pensava: “como eles vão passar pelo câncer para voltarem para seus filhos?”.

Quando essas dúvidas já pairavam sobre a minha cabeça, veio o maior chamado de Jesus na minha vida, aos meus 30 anos. Sofri um acidente automobilístico, sofri dezenas de fraturas, perdi o nariz, demorei mais de um ano para voltar a andar, mas Deus me deu uma nova chance. Foi naquele momento em que percebi que eu tinha que fazer mais pelas pessoas. Se minha hora ainda não tinha chegado, teria que ter um motivo.

Alguns meses depois, já recuperada, um homem me aborda no hospital, lutando para uma vaga na quimioterapia, e diz: “-Doutora, amanhã é aniversário do meu filho. Se eu não conseguir fazer a químio hoje, não vou poder voltar para casa e passar o último aniversário dele ao seu lado, porque sei que ano que vem não vou mais estar aqui”. Naquela época, muitas pessoas viajavam horas para Montes Claros para tentar uma única vaga na químio e voltavam sem fazer o tratamento. Eu decidi que tinha que fazer alguma coisa.

Aluguei uma casa, na rua de baixo do hospital, para oferecer alimento e abrigo às pessoas que faziam quimioterapia. Era o Projeto Presente, que se tornou a causa de amor da minha vida, a Associação Presente. É uma forma de agradecer a Deus os presentes que ele me deu. É aquela frase de Fernando Pessoa, que diz que “quando Deus quer, o homem sonha e a obra nasce”. Também foi assim que o Hospital Oncovida nasceu. Foi o primeiro serviço privado de Oncologia em Montes Claros. Eu queria oferecer mais qualidade, um atendimento multiprofissional para os pacientes. Nós conseguimos. Hoje, somos o centro de tratamento de câncer mais completo do Norte de Minas.

Fiz mestrado em saúde da mulher, e pós-graduação no curso de Cuidados Paliativos mais famoso do mundo, em Harvard School. Pude aprender mais sobre a morte, algo tão temido e mistificado pelo homem. Aprendi que a morte faz parte de nós, e que não devo temê-la. Tenho medo do sofrimento, e por isso quero ser ponte de paz. Oferecer apoio, não só no momento em que a cura é possível, mas também ser segurança e aliviar o sofrimento quando alguém está na fronteira da vida.

Esse é um pequeno recorte da minha história. Vim ao mundo para servir e espero poder ajudar caso você ou um dos seus amores esteja atravessando o deserto de um câncer.