Artigos 06 junho 2025

Transtornos do Impulso: como diferenciar o comportamento saudável do excessivo

Maurício Henriques Damasceno Psicólogo, Psicanalista
Maurício Henriques Damasceno
Psicólogo, Psicanalista

A questão dos impulsos sempre esteve representada nos registros de várias culturas ao longo do desenvolvimento da nossa espécie. Entre os deuses, o impulso era um elemento permanente ora relacionado ao ato de criação produtiva, ora relacionado a intrigas e desavenças. Na Filosofia grega, o impulso foi tema de praticamente todos os pensadores ora como elemento inerente à natureza, ora como elemento essencial da transformação humana. Com o avanço da ciência médica, mais especificamente da psiquiatria e da psicologia, as formas de abordagens se multiplicaram. Muito em razão também dos avanços industriais e do controle de doenças e fome. A diferença entre necessidade e demanda ficou evidente. É bem provável que uma pessoa moradora de uma cidade como São Paulo, Londres ou Mumbai coma melhor ou tenha mais oferta de comida do que Luís XIV, o homem mais rico do mundo em sua época. É bem provável que a oferta de entretenimento nos últimos 10 anos supere a oferta de entretenimento nos últimos 1000 anos, quiçá, 2000!

O amplo hiato entre necessidade e demanda fez com que o grande debate sobre os impulsos humanos migrasse para a pesquisa sobre os efeitos da impulsividade no comportamento humano.

mulher fazendo terapia O Transtorno do Controle do Impulso (TCI) é um grupo de condições psicológicas caracterizadas pela dificuldade do indivíduo em resistir a impulsos ou desejos intensos.

Transtorno do Controle do Impulso:

O Transtorno do Controle do Impulso (TCI) é um grupo de condições psicológicas caracterizadas pela dificuldade do indivíduo em resistir a impulsos ou desejos intensos, mesmo quando isso pode trazer consequências negativas para si ou para os outros. Esse transtorno pode impactar significativamente a vida pessoal, profissional e social do indivíduo.

Características do TCI:

Os três aspectos principais que caracterizam o grupo de TCI são: aspectos impulsivos (falta de premeditação ou consideração das consequências); aspectos compulsivos (comportamentos repetitivos com falta de autocontrole); um comportamento negativo ou prejudicial para si mesmo ou para os outros (Gatto; Aldinio, 2019).

TCIs destacados no DSM - 5 - TR:

No Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR são identificados: Transtorno de Oposição Desafiante (TOD), caracterizado por um padrão de humor raivoso/irritável, comportamento questionador/desafiante, Transtorno Explosivo Intermitente (TEI), com explosões de raiva: agressão verbal ou física, desproporcionais à situação. Além disso, o Transtorno da Conduta, com padrão repetitivo de comportamento agressivo, desafiador ou anti social que viola normas sociais e direitos de terceiros. Destaca-se ainda a Piromania, explicada como um fascínio incontrolável por atear fogo em objetos ou lugares, e a Cleptomania: compulsão incontrolável por roubar objetos.

Outras condições associadas ao impulso, frequentemente tratadas em diversos serviços de saúde mental em todo o Brasil são:

  • Jogo compulsivo, também conhecido como transtorno do jogo ou ludopatia, que se refere à uma doença psiquiátrica que se caracteriza por apostar compulsivamente em jogos de azar.
  • Ciúme patológico, caracterizado por um ciúme excessivo e irracional, com pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos relacionados à suspeita de infidelidade.
  • Impulso sexual excessivo, também conhecido como hipersexualidade, se caracteriza por um desejo sexual incontrolável, o que pode causar prejuízos na vida da pessoa.

Causas e Fatores de Risco:

Os transtornos de controle de impulsos (TCI) são multifatoriais, com causas que incluem fatores genéticos, neurobiológicos, psicológicos e ambientais, como histórico familiar, experiências traumáticas, estresse e uso de substâncias.

Estudos sugerem uma predisposição genética para TCI, com histórico familiar sendo um fator de risco. Além disso, desequilíbrios nos neurotransmissores, como serotonina e dopamina, e disfunções no sistema de recompensa do cérebro, podem estar envolvidos.

Experiências traumáticas na infância, estresse crônico, falta de habilidades de enfrentamento e comorbidades psicológicas (como ansiedade, depressão e transtorno bipolar) são considerados como fatores de risco para o desenvolvimento de TCI. Por fim, influências ambientais, como abuso de substâncias, podem agravar ou desencadear TCI. A atuação do psicólogo é fundamental nesses casos, ajudando a identificar padrões de comportamento e desenvolver estratégias de regulação emocional. Por fim, influências ambientais, como abuso de substâncias, podem agravar ou desencadear TCI.

Formas de Tratamento:

É possível que quadros de envolvem essa condição estejam subdiagnosticados. Isso se deve ao fato de, frequentemente, estarem associados a avaliações morais tais como preguiça, falta de inteligência ou vontade, inescrupulosidade dentre outras. No entanto, a avaliação clínica criteriosa leva, inevitavelmente, à identificação de diversos problemas enfrentados pelo paciente, em alguns casos por toda a vida e com grandes prejuízos ao desenvolvimento físico, psicológico e social.

O tratamento para os Transtornos do Controle do Impulso é normalmente integrativo, o que significa dizer que intervenções psiquiátricas, psicológicas, farmacológicas e comportamentais são combinadas de modo a recobrir o amplo espectro de sintomas experimentados pelos pacientes. Muitas vezes o tratamento implicará no desenvolvimento de estruturas organizadas de tratamento e apoio: dietas alimentares, grupos de apoio, suporte jurídico e, principalmente, acompanhamento médico e psicológico.

  • As psicoterapias de orientação dinâmica e comportamental combinadas com medicação desempenham um papel fundamental, ajudando o indivíduo a desenvolver autoconsciência, estratégias de regulação emocional e controle sobre seus comportamentos.
  • O tratamento psiquiátrico e uso da medicação quando necessário, são fundamentais para o enfrentamento das crises e recaídas (é importante conceber as recaídas como parte do tratamento).
  • Uso de medicamentos: Antidepressivos, estabilizadores de humor e outros psicofármacos podem ser prescritos para reduzir os impulsos.

Importante dizer que o diagnóstico dos quadros psiquiátricos e psicológicos não é linear. Sua identificação é processual e depende de ampla adesão do paciente ao tratamento. Frequentemente confundido com suas comorbidades, o diagnóstico dos Transtornos do impulso requerem avaliação técnica específica. Importante consultar um especialista.

Referências:

  • American Psychiatric Association (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR. ed. Porto Alegre: Artmed, 2023.
  • Gatto EM; Aldinio V (2019) Impulse Control Disorders in Parkinson’s Disease. A Brief and Comprehensive Review. Front. Neurol. 10:351. doi: 10.3389/fneur.2019.00351

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