Por que algumas pessoas autistas parecem boas em multitarefa em certas áreas, mas não em outras?

3 respostas
Por que algumas pessoas autistas parecem boas em multitarefa em certas áreas, mas não em outras?
 Helio Martins
Psicólogo
São Bernardo do Campo
Oi, tudo bem? Essa é uma observação muito perspicaz — e, de fato, uma das nuances mais interessantes do funcionamento cognitivo no autismo. À primeira vista, pode parecer contraditório que uma pessoa autista consiga lidar com múltiplas tarefas em algumas situações e, em outras, se sinta completamente sobrecarregada. Mas, quando olhamos com mais profundidade, percebemos que isso tem tudo a ver com o tipo de tarefa, o nível de previsibilidade do ambiente e o modo como o cérebro processa os estímulos.

Em geral, o cérebro autista tende a ter um foco seletivo muito forte. Isso significa que, quando as tarefas são familiares, previsíveis ou estão dentro de um interesse específico, o sistema cognitivo consegue alternar entre elas com muito mais fluidez. Nesses casos, o cérebro já “sabe o caminho” e, por isso, o esforço mental para mudar de uma ação para outra é muito menor. É como se houvesse uma trilha já pavimentada entre as tarefas.

Mas quando o ambiente é caótico, exige respostas rápidas ou envolve estímulos imprevisíveis — como sons, interrupções ou múltiplas demandas sociais —, o custo cognitivo sobe. A memória de trabalho e a flexibilidade cognitiva (funções que dependem fortemente do córtex pré-frontal) são mais exigidas, e isso pode gerar sobrecarga. Então, o mesmo cérebro que parece “brilhante” em uma área pode parecer “travado” em outra, quando na verdade o que muda é o contexto e o tipo de processamento necessário.

A neurociência mostra que o cérebro autista funciona com uma conectividade diferente: mais intensa dentro de certos circuitos e menos integrada entre outros. Essa configuração cria especializações — o que faz com que determinadas combinações de tarefas sejam realizadas com maestria, enquanto outras se tornam desgastantes.

Talvez valha refletir: em quais situações você sente que o foco flui naturalmente? O que acontece no ambiente quando isso muda? E será que, em vez de medir a “habilidade de multitarefa” por quantidade, não faria mais sentido avaliá-la pela qualidade e pelo tipo de envolvimento que ela desperta?

Quando compreendemos o contexto, o que antes parecia uma limitação passa a ser apenas uma diferença de funcionamento — e, em muitos casos, uma diferença cheia de potencial. Caso queira, posso te ajudar a entender melhor como adaptar o ambiente para que esse potencial floresça.

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Isso acontece porque pessoas com TEA frequentemente apresentam perfis cognitivos desiguais. Elas podem ter facilidade em áreas que envolvem interesses específicos, padrões ou lógica clara, onde conseguem aplicar atenção concentrada e memória de trabalho de forma eficiente. Em tarefas que exigem flexibilidade, alternância rápida ou estímulos sociais, a multitarefa se torna mais difícil, refletindo a variabilidade entre pontos fortes e desafios cognitivos.
Isso acontece porque pessoas com Transtorno do Espectro Autista tendem a ter habilidades muito desenvolvidas em áreas de interesse específico, onde o foco é natural e o processamento da informação ocorre de forma mais eficiente. Nessas áreas, o cérebro consegue lidar melhor com várias etapas da tarefa. Por outro lado, em atividades que exigem flexibilidade, mudanças rápidas ou interpretação social, a multitarefa se torna mais difícil devido à sobrecarga cognitiva e sensorial. Ou seja, não é falta de capacidade, é diferença no tipo de demanda.

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