Como o isolamento é um mecanismo de defesa no autismo?

2 respostas
Como o isolamento é um mecanismo de defesa no autismo?
 Cirano Araújo
Psicólogo, Psicanalista
Belo Horizonte
Olá, como tem passado?
Do ponto de vista fisiológico, o isolamento no autismo pode estar relacionado a um funcionamento sensorial e neurológico específico. Pessoas no espectro costumam apresentar uma hiper ou hipossensibilidade aos estímulos do ambiente, sons, luzes, toques, cheiros e até expressões faciais podem ser percebidos de maneira muito intensa ou confusa. Esse excesso de estímulo provoca sobrecarga sensorial e emocional, levando o organismo a buscar proteção. Assim, o isolamento pode ser uma resposta de autorregulação: afastar-se do mundo é, antes de tudo, uma forma de preservar o equilíbrio interno diante de um excesso de excitação que o corpo e a mente ainda não conseguem traduzir em linguagem.
Mas, no campo psicanalítico, o isolamento adquire outro sentido, sem perder necessariamente o anterior. A psicanálise entende o autismo não como falta ou defeito, mas como uma forma particular de relação com o Outro e com a linguagem. Desde cedo, a criança autista tende a se proteger de uma invasão do mundo externo, especialmente daquilo que vem da linguagem, muitas vezes por ser cheia de ambiguidades e demandas, pode ser vivida como ameaçadora. O isolamento, nesse contexto, funciona como um mecanismo de defesa contra o excesso de presença do outro, uma tentativa de manter o Eu preservado diante de uma alteridade que se impõe de modo confuso e incontrolável.
É como se o sujeito autista construísse um espaço próprio de sentido e permanecesse ali, onde o contato com o outro e com as emoções pode ser administrado com menor angústia. Nesse sentido, o isolamento não é ausência de relação, mas uma forma diferente de se relacionar, mediada por defesas que garantem a integridade do sujeito frente a um mundo sentido como invasivo.
Por isso, o acompanhamento com psicólogo ou psicanalista especializado é essencial: ele oferece um espaço onde o isolamento pode ser compreendido não como obstáculo, mas como linguagem e, ao mesmo tempo, um ponto de partida para novas formas de contato e de existência.
Na dúvida procure um psicólogo ou psicanalista que tenha mais proximidade de atuação com essa clínica do autismo especificamente, pode ser bem interessante para solucionar mais dúvidas.

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 Helio Martins
Psicólogo
São Bernardo do Campo
Oi, tudo bem? Essa é uma pergunta muito interessante — e profunda também. No autismo, o isolamento social pode funcionar como uma forma de autoproteção, uma tentativa do cérebro e do corpo de se preservar diante de um mundo que, muitas vezes, parece intenso demais. Não se trata de “fuga” no sentido comum, mas de uma maneira de reduzir a sobrecarga sensorial, emocional e relacional que certas interações provocam.

O cérebro de uma pessoa autista processa os estímulos de modo diferente. Sons, luzes, olhares e expressões podem chegar todos ao mesmo tempo, sem o filtro automático que a maioria das pessoas usa sem perceber. Esse excesso de informação ativa o sistema de alerta — o mesmo responsável por nos proteger em situações de perigo. Então, o isolamento, nesse contexto, é uma forma de dizer: “preciso de silêncio para reorganizar o que está acontecendo dentro de mim”.

É curioso pensar como esse mecanismo, que nasce para proteger, pode acabar gerando também solidão. Por isso, o caminho terapêutico não é “quebrar o isolamento à força”, mas compreender o que ele tenta comunicar. O que o corpo está tentando evitar? Quais situações fazem esse sistema de defesa se ativar? O que acontece internamente quando há muito contato social? Essas perguntas ajudam a transformar o isolamento em informação, e não em prisão.

Quando o ambiente se torna mais previsível e seguro, e quando a pessoa encontra formas de se autorregular, o cérebro tende a relaxar — e, aos poucos, o isolamento deixa de ser necessário como defesa. É como se o mundo pudesse, finalmente, se tornar um pouco mais habitável.

Caso sinta que seria importante explorar esse processo com apoio, a terapia pode ser um espaço cuidadoso e respeitoso para isso. Estou à disposição, se precisar.

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