Guilherme Arthur Possagnoli Freitas

Há várias dúvidas sobre a análise e o processo psicoterapêutico. Por isso selecionei alguns trechos diretamente da obra de Freud para ele responder algumas das principais dúvidas que habitam principalmente os pacientes que nunca realizaram um processo analítico. O que falar em uma análise? Comporte-se, por exemplo, como um viajante que está sentado à janela do trem e descreve para seu vizinho, alojado no interior, como se transforma a vista ante seus olhos. Há um ponto em que seu relato deve ser diferente de uma conversa normal. Enquanto geralmente se procura, com razão, manter um fio condutor naquilo que se expõe, excluindo as associações e pensamentos secundários que perturbam a exposição, para não ‘ir do centésimo ao milésimo’, como se diz, você deve proceder de outro modo. Observará que durante o seu relato lhe ocorrerão pensamentos diversos, que você gostaria de rejeitar, devido a certas objeções críticas. Estar tentado a dizer a si mesmo que isso ou aquilo não vem ao caso, ou é totalmente irrelevante, ou é absurdo, e então não é preciso comunicá-lo. Não ceda jamais a essa crítica, e comunique-o apesar disso, ou melhor, precisamente por isso, porque você sente uma aversão àquilo. E se eu não souber mesmo o que falar? Volta e meia surgem pacientes que começam a terapia assegurando que nada lhes ocorre que pudessem relatar, embora tenham diante de si, intocada, toda a história de sua vida e de sua doença [...] Ele pensou no tratamento em si, mas em nada definido, ou se ocupou da aparência da sala onde se encontra, ou teve de pensar nos objetos do consultório, e no fato de estar deitado num divã, e tudo isso ele substitui pela palavra “nada”. Comece pelos 'nadas'. Quanto tempo vai durar o tratamento? Respondemos quase como Esopo na fábula, quando o andarilho pergunta pela extensão do caminho e ouve a exortação: “Anda!”, que é explicada com a justificativa de que é preciso antes conhecer o passo do andarilho, para poder calcular a duração de sua viagem, mas a comparação não é boa, pois o neurótico pode mudar seu andamento com facilidade, e fazer progressos muito lentos às vezes. A pergunta sobre a duração do tratamento é quase impossível de responder, na verdade. Quanto custa? Para a classe média, o gasto de dinheiro exigido na psicanálise é excessivo apenas na aparência. Sem considerar que são incomensuráveis, de um lado, saúde e capacidade de realização [...] Não há nada mais caro na vida que a doença — e a estupidez. E será que funciona? Claro que a disposição confiante do paciente torna agradável o trato inicial com ele; nós lhe agradecemos por isso, mas advertimos que sua prevenção favorável será destruída pela primeira dificuldade que surgir no tratamento. E ao cético diremos que a análise não requer confiança, que ele pode ser crítico e desconfiado como quiser, que não levaremos sua atitude à conta do seu julgamento, pois ele não se acha em condição de formar um juízo confiável nessas questões; sua desconfiança é justamente um sintoma ao lado de seus outros sintomas, e não interferirá se ele apenas seguir conscientemente o que a regra do tratamento dele exigir.