Por que alguém com Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) sente tanto ciúmes em amizades?

Alguém com Transtorno de Personalidade Borderline sente ciúmes intensos em amizades porque percebe os vínculos afetivos de forma extrema, ligando-os diretamente à sua segurança emocional. A pessoa tende a temer abandono ou rejeição mesmo em situações neutras, idealiza amigos próximos e interpreta qualquer atenção a outros como uma ameaça ao seu lugar de destaque. Essa sensibilidade reflete a dificuldade característica do TPB em regular emoções e lidar com inseguranças interpessoais, fazendo com que sentimentos de ciúme se tornem intensos, frequentes e desproporcionais à realidade.

O vínculo é vivido com intensidade extrema. Qualquer sinal de distanciamento reativa memórias de rejeição e abandono, muitas vezes ligadas à infância. O ciúme nasce desse medo: o de reviver a dor de ser deixado sozinho outra vez.

No Transtorno de Personalidade Borderline, o ciúme nas amizades não nasce de posse ou de maldade, mas de um medo muito profundo de perder o vínculo. Para você, as amizades não são superficiais; elas têm um valor emocional enorme, muitas vezes ocupam um lugar de segurança, pertencimento e até de sobrevivência afetiva. Quando esse laço parece ameaçado, mesmo que de forma sutil, o sofrimento aparece com muita força.

Esse ciúme costuma estar ligado a experiências antigas em que o afeto foi instável, imprevisível ou condicionado. Seu mundo emocional aprendeu que o amor e a presença do outro podem desaparecer de repente. Por isso, quando um amigo se aproxima de outras pessoas, muda um pouco a rotina ou não responde como antes, isso pode ser sentido como sinal de substituição ou abandono. Não é algo que você escolhe sentir; é uma reação automática de um sistema emocional que está sempre em alerta para não perder quem é importante.

Além disso, no TPB existe uma dificuldade em sustentar a ideia de que é possível ser importante para alguém sem ser exclusivo. Em momentos de insegurança, o pensamento tende a ir para extremos: ou eu sou especial, ou eu não sou nada. Essa forma de sentir intensifica o ciúme e pode gerar comparações, dor, raiva ou tentativas de se afastar antes de ser deixado.

O mais importante é você saber que esse ciúme não define quem você é, nem invalida sua capacidade de amar e de ser amigo. Ele aponta para feridas emocionais que ainda doem e pedem cuidado. Em psicoterapia, é possível trabalhar essas angústias, fortalecer sua segurança interna e aprender a tolerar a proximidade do outro sem viver isso como ameaça constante. Quando essas feridas começam a ser compreendidas, o ciúme perde força, e as amizades podem se tornar mais leves, seguras e verdadeiras.