A honestidade é um traço de personalidade ou uma característica do autismo?

Pessoas autistas costumam ser muito literais, transparentes e espontâneas, o que faz com que expressem pensamentos e sentimentos de maneira direta, sem filtros sociais, refletindo uma forma autêntica e coerente de se relacionar com o mundo. Essa sinceridade é uma consequência da dificuldade em compreender convenções sociais ou nuances implícitas da comunicação.

Oi, tudo bem? Essa é uma pergunta muito interessante — e, de certa forma, revela como o autismo pode ser mal interpretado. A honestidade em pessoas autistas não é exatamente um “traço de personalidade”, mas uma expressão natural da forma como o cérebro autista processa o mundo: de maneira direta, lógica e literal. Em outras palavras, o autismo não cria a honestidade, mas tende a fazer com que a pessoa valorize a verdade e a coerência de um modo muito intenso.

Enquanto muitas pessoas neurotípicas modulam o que dizem para se adaptar socialmente — evitando desagradar ou filtrando opiniões —, o autista costuma perceber isso como algo confuso ou até desnecessário. O cérebro autista busca consistência entre o que é dito e o que é sentido, e quando há uma discrepância, isso pode gerar desconforto real. Por isso, a honestidade, para muitos autistas, não é uma escolha moral, e sim uma forma de estar no mundo que faz sentido.

Você já se viu em situações em que foi completamente sincera e depois percebeu que os outros interpretaram mal sua intenção? Ou sentiu que o “jogo social” de dizer o que esperam ouvir simplesmente te cansa? E como é pra você lidar com o contraste entre querer ser autêntica e perceber que nem sempre o ambiente acolhe essa autenticidade?

A honestidade, quando vista por essa lente, é uma força — um reflexo da busca autista por verdade e integridade emocional. O desafio está em aprender a equilibrar essa verdade com o contexto social, sem que isso signifique se calar ou se mascarar. Em terapia, é possível trabalhar justamente esse ponto: transformar a honestidade em uma ponte, e não em um muro. Se quiser compreender melhor como manter sua autenticidade sem sentir que precisa se defender o tempo todo, estou à disposição para te acompanhar nesse processo.

Embora o caráter (personalidade) influencie, a 'sinceridade excessiva' no autismo é, muitas vezes, uma forma autêntica e transparente de ler o mundo. Na terapia, ajudamos a paciente a calibrar essa comunicação para que ela não gere prejuízos sociais, sem que ela precise abrir mão de sua essência verdadeira.